BATUQUE. CULTO AOS ORIXÁS.
- contatogilsonss
- 29 de mai.
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Atualizado: 9 de jun.
Batuque é uma religião afro-brasileira que cultua os Orixás. Está instalada no Estado do Rio Grande do Sul no Brasil, extendendo-se ao Uruguai e a Argentina, países vizinhos do Estado. Seus costumes, ritos e práticas são semelhantes ao Candomblé da Bahia e ao Xangô do Recife.

O Batuque despontou no Rio Grande do Sul com a chegada dos escravizados africanos aos centros urbanos do Estado. Era meados do Século XIX. A religião se estruturou entre 1833 e 1859. Antes, os terreiros foram fundados na região das cidades de Rio Grande e Pelotas. Depois, expandiu-se para Porto Alegre. Estudiosos afirmam que o nome Batuque foi dado pela população branca do Estado. Os africanos e os afro-brasileiros chamavam a religião de Pará. O Batuque gaúcho ao longo do tempo, incorporou as influências locais. A alimentação de alguns Orixás incluem pratos típicos como a polenta e o churrasco. Alguns batuqueiros homens utilizam a bombacha como uniforme. Antes, era só praticada por negros, hoje é presente entre a população branca e inclusive de alta classe social.

Os cultos do Batuque seguem os costumes dos povos ou nações africanas Ijexá da Nigéria; Jejês do Daomé (hoje Benin), e Cabinda e Oió da Nigéria. Pertencem às nações que falam a língua Yorubá. O Yorubá é, inclusive, sua língua litúrgica.
Os Orixás
Cultua-se no Batuque 12 Orixás de ambos os sexos. Entre eles há uma hierarquia por idade indo de BARÁ (EXÚ), o primeiro, até OXALÁ, o último. Há duas classes, os Orixás jovens, de BARÁ até OBÁ, e os Orixás velhos que são OXUM, IEMANJÁ e OXALÁ. Não existe porém uma hierarquia por importância. Eles se completam. Cada um têm sua função dentro do culto. São eles:
BARÁ (EXÚ/ESU) - Orixá mensageiro. Faz a ligação entre o plano plano espiritual e material. É o que tem a chave de tudo. Ele tranca e destranca;
OGUM - é o Deus da Guerra. Senhor dos metais. Dono dos caminhos, estradas e trilhas;
OIÁ/OYA (IANSÃ) - Deusa dos ventos. Domina os raios e as tempestades;
XANGÔ - Senhor dos trovões. Patrono da justiça;
IBEJI - Divindade das brincadeiras e alegrias. Orixás crianças. Sincretismo com São Cosme e Damião;
OBÁ - Regente das enchentes, inundações e cheias dos rios;
ODÉ e OTIM - Orixás da fartura e da caça. Inseparáveis. Regem as lavouras e plantios;
OSSANHA/OSAIM - Orixá das plantas medicinais e litúrgicas;
XAPANÃ (OMULU ou OBALUAIÊ) - Regente das pestes, das molésticas contagiosas;
OXUM - Orixá mulher protótipo da beleza e meiguice. Dona das cachoeiras e águas doces;
IEMANJÁ - Dona do mar, mãe dos Orixás, rainha dos lares e protetora das famílias;
OXALÁ - Orixá da paz, união e fraternidade.

Os cultos, crenças e costumes
Cada casa de Batuque ou templo terreiro se organiza sob a liderança de um sacerdote (Babalorixá ou Ialorixá) que assume a condição de pai ou mãe de santo, com ampla autoridade em seu templo. Em caso de falecimento do Babalorixá ou Ialorixá, fica a critério da família o destino do templo. Se não tiver um familiar que possa substituí-los, o templo é fechado. É normal o Babalorixá ou a Ialorixá formar novos sacerdotes passando a eles todos os segredos dos rituais como o uso das folhas sagradas, execução de trabalhos e oferendas, interpretação do jogo de búzios. Geralmente, o novo sacerdote já nasce no meio religioso. O tempo de aprendizado é superior a 7 anos e os conceitos são passados com a evolução da capacidade de aprendizado. Os ensinamentos são feitos oralmente. A melhor maneira do aprendizado é conviver desde cedo nos terreiros.

As casas de Batuque são, em maioria, nas próprias casas de moradia. Um cômodo é destinado, geralmente na frente da casa, onde são colocados os Orixás. Os locais são considerados sagrados. Pessoas com roupas pretas e mulheres em tempo de menstruação não podem entrar nestes locais.
O Batuque possui rituais para iniciação e desligamento, jogo de búzios, cozinha ritualística, assentamentos, paramentação, ferramentas de cada divindade, e disposição dos Orixás dentro do templo. As danças são executadas em par, um de frente para o outro. O iniciante ao se filiar a uma casa de batuque se aproxima de dois Orixás que irão guiá-lo na vida espiritual e material.

Entre os ritos há a chamada "balança" momento onde vários praticantes entram em transe, incorporando as divindades. Neste instante, o possuído muda o seu comportamento realizando danças referentes aos mitos que seu Orixá possui.
As oferendas aos Orixás exigem o oferecimento de alimentos e também sangue de algum animal. Crê-se que esta ação visa alimentar os Orixás para que eles estejam fortes para proteger os seus filhos humanos. Como exemplo, existe rituais de fundamentos para os Orixás como a matança de peixe significando fartura e prosperidade. Um dia é reservado para o "serão", culto que envolve o sacrifício de animais e a preparação dos alimentos que irão compor a cerimônia. Os animais são preparados com diversos temperos e servidos a todos os participantes.

Pelo menos uma vez durante o ano, cada casa de batuque promove homenagens com toques especiais (batidas e ritmos) aos Orixás. É comum se fazer uma grande festa a cada 4 anos envolvendo sacrifícios de animais de 4 patas como cabras, carneiros, porcos ou ovelhas, acompanhados de aves.
O Batuque também possui ritos do culto de Eguns, os espíritos dos falecidos. O rito é feito em um local específico dentro de cada templo, separado do local principal. São feitas diversas obrigações em determinadas datas e quando falece alguém ligado ao terreiro.

As Linhas, Nações ou Lados
As entidades cultuadas são as mesmas em todos os terreiros, porém cada um deles possui rituais e rezas relativas a uma tradição, a uma Linha, Nação ou Lado, possuindo detalhes específicos nas rezas, cultos, danças, preparo dos alimentos e oferendas sagradas.
As Linhas/Nações são:
OIÓ/OYO - Cultuada em Porto Alegre. Nesta linha primeiro se toca (reza) para os Orixás masculinos e depois para os femininos.
IJEXÁ/JEXÁ - É a nação com maior número de terreiros e filhos. A liturgia e a ritualística é feita em Iorubá. A rainha é a Orixá Oxum.
JEJE/JÊJO - Caracterizada pelo rápido toque dos tambores. Outra característica é a dança Jeje praticada em grande roda (gira).
NAGÔ - Considerada a nação que originou o culto no Rio Grande do Sul. Hoje está praticamente extinta.
CABINDA - Origem bantô, onde se fala kimbundo. O ritmo dos tambores lembra a capoeira.
OIÁ/MOÇAMBIQUE - as comidas oferecidas nas obrigações são preparadas com raízes. Exige que seus tamboreiros possuam um conhecimento específico de suas linhas.
Como a fé é curiosa...
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