IAZIDISMO é a religião majoritária dos IAZIDIS, um povo originário no antigo Curdistão (curdos), hoje dividido entre o Iraque, Irã, Síria e Turquia. Estimativas apontam que os iazidis hoje se concentram no Iraque (Curdistão do Sul) com cerca de 650.000 pessoas, na Síria (Curdistão Ocidental) com 50.000, na Rússia e Alemanha com 40.000 cada um; Armênia e Geórgia com 30.000 cada um e um número menor em outros países.
O IAZIDISMO é uma religião étnica monoteísta, com raízes em antigas religiões da Mesopotâmia, em especial o Zoroastrismo e o Mitraísmo. Aos poucos foi ganhando características do Cristianismo e principalmente do Islamismo (Sufismo).
Os IAZIDIS são um grupo fechado, recusando a mistura com outras etnias (aceitam casamentos entre parentes de sangue), ou com outras religiões. Organizam-se em 3 castas: os MURIDS, os SHEIKS e os PIRS (Discípulos, Guias e Mestres - termos oriundos do Sufismo Islâmico). Casam-se apenas dentro de sua casta. Não aceitam a conversão para outras religiões. Afirma-se que o pior destino possível para um IAZIDI é ser expulso de sua comunidade. Isto significa que sua alma jamais poderá progredir.
Por quê adoradores do diabo? Por quê filhos só de Adão?
OS IAZIDIS. "ADORADORES DO DIABO". Filhos só de Adão
Para compreender estes títulos, é necessário conhecer a curiosa história da criação do mundo na crença IAZIDI. Através dela conheceremos também outros importantes elementos existentes na cultura, nas crenças e nos cultos.
A formação do cosmo e a origem da vida
A história IAZIDI da formação do cosmo e da origem vida divide-se em 3 fases:
1 - ENZEL - O estado antes da explosão da pérola. Deus era único num mundo puro, espiritual, imaterial e infinito. Um estado sem espaço e sem tempo. Deus, usando sua própria luz, criou uma pérola branca, a qual iria gerar o Universo;
2 - A CRIAÇÃO DO COSMO - Depois da separação de Deus e da pérola, o Universo explodiu da pérola e tornou-se visível como ondas em movimento que formaram o oceano cósmico (semelhante a hipótese do Big-Bang);
3 - A CRIAÇÃO DA TERRA E DO HOMEM - Deus, antes de criar a Terra, criou SETE ANJOS SAGRADOS dirigindo para eles, todos os assuntos terrenos. Deus designou um dos anjos como líder e o nomeou TAWUSI MELEK, o Anjo Pavão. A seguir, Deus procedeu a criação da Terra e de ADÃO e EVA, colocando-os no Paraíso, os quais, darão início à criação da humanidade (com exceção dos IAZIDIS).
Os IAZIDIS são descendentes só de ADÃO - Ué! Como pode ser?
As escrituras IAZIDI dizem que antes do pecado capital, Adão e Eva tiveram desavenças sobre qual deles seria o responsável pela geração das crianças. Cada um deles guardou a sua semente em um grande pote que foi selado. Quando o pote de Eva foi aberto, estava com insetos e outras criaturas desagradáveis. No pote de Adão estava um belo rapaz, conhecido como o FILHO DO POTE. Ele cresceu e depois casou com uma HOURI, gerando o povo IAZIDI. HOURI é um termo islâmico que significa uma jovem mulher muito bela que vive no paraíso como companheira de fiéis islâmicos que faleceram.
Mas, por quê adoradores do diabo?
O título vem da semelhança muito grande do relato da ascensão do anjo Tawusi Melek como o anjo favorito de Deus, com a história de IBLIS considerado o anjo demônio no Islamismo.
Um famoso conto IAZIDI diz que ao criar os SETE ANJOS SAGRADOS, Deus ordenou que se prostassem somente a ele, seu criador. Noutra oportunidade, diante da presença de ADÃO, Deus pediu aos sete anjos que se prostassem perante Adão. Seis se prostaram, menos Tawusi Melek, a principal figura sagrada do IAZIDISMO.
No Alcorão, história semelhante ocorre com o anjo IBLIS, que não atendeu a ordem de Alá para se prostar perante Adão, e por isso, o anjo Melek é considerado pelos islâmicos como sendo o demônio.
Essa associação do Anjo Melek do Iazidismo com o anjo IBLIS do islamismo, rendeu profundas perseguições ao povo IAZIDI, principalmente por parte do povo islâmico e notadamente pelo grupo radical ESTADO ISLÂMICO.
Para os IAZIDIS, o comando de Deus era, na verdade, um teste destinado a determinar qual dos anjos era o mais leal a Deus. Melek atendeu à primeira ordem de não se prostar diante de alguém que não fosse seu criador.
Este é mais um exemplo de que o fanatismo a diferentes crenças religiosas sejam motivo de perseguições e guerras.
Alguns curiosos elementos característicos do IAZIDISMO
Deus é chamado de XUEDÊ, ou XUEDAWEND, ou EZDAN, ou PEDHA, ou uma série de outros possíveis nomes. Hinos IAZIDIS dizem que Deus tem 1001 nomes;
No IAZIDISMO, fogo, água, ar e terra são elementos sagrados e não devem ser poluídos;
O Sol é um elemento sagrado sendo encarado como o "olho de Deus";
Os IAZIDIS possuem 5 orações diárias (madrugada, nascer do Sol, Meio-Dia, Tarde e Por do Sol). Todas são feitas em direção ao Sol, com exceção da oração do Meio-Dia feita na direção da cidade de Lalish no Norte do Iraque (considerada cidade santa);
Os IAZIDIS adotaram o Batismo do Cristianismo o qual é realizado somente na cidade de Lalish, e também, algumas práticas islâmicas como a circuncisão (não obrigatório) e não utilizar calçados nos templos;
Os IAZIDIS não usam a cor azul em suas roupas (se desconhece o motivo) e as noivas usam vermelho no casamento;
Os IAZIDIS acreditam que as almas passam sucessivamente por vários corpos (transmigração) e que a purificação é gradual devido ao renascimento contínuo. Isto faz com o que o inferno não seja necessário. Eles vêem o renascimento como um "trocar de roupa";
Os IAZIDIS crêem que tanto o BEM como o MAL existem na mente e no espírito das pessoas, e são elas próprias que escolhem a um ou a outro;
Muitos IAZIDIS consideram a carne de porco proibida para consumo;
Os IAZIDIS, além de Deus acreditam numa tríade divina formada pelo Anjo Melek Taus, o Xeque Adi ibn Musafir e o Sultão Ezid;
A literatura religiosa IAZIDI é composta principalmente pela poesia transmitida oralmente. Como livros sagradas IAZIDI têm-se o LIVRO DA REVELAÇÃO e o LIVRO NEGRO, escritos em 1911 e 1913. Estudiosos dizem que os livros são falsificações escritas por não-iazidi. No entanto, seu conteúdo faz jus às tradições iazidis autênticas.
Como a fé é curiosa...
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