A TORÁ E A BÍBLIA HEBRAICA (TANACH)
- contatogilsonss
- 3 de mai.
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Atualizado: 7 de mai.
TORÁ significa INSTRUÇÃO. É o livro sagrado do judaismo. Mostra a Lei de Deus intermediada por MOISÉS. É composta por cinco livros que são: BERESHIT (Gênesis), SHEMOT (Êxodo), VAYIKRAH (Levítico), BAMIDBAR (Números) e DEVARIM (Deuteronômio). No entanto, é comum também chamar de TORÁ a Bíblia Hebraica completa (Tanach). Algumas versões impressas da TORÁ a intitulam Chumash ou Humash. Neste texto, chamaremos de TORÁ os cinco primeiros livros da Bíblia ou o Pentateuco. A Bíblia Hebraica, ou Bíblia Judaica, será analisada separadamente.

A tradição judaica fala que MOISÉS escreveu os cinco livros que compõem a TORÁ. O TALMUD (coletânea de livros sagrados dos judeus) fornece duas opiniões sobre quando MOISÉS a escreveu. Uma delas é que os livros foram escritos a medida que os fatos aconteciam. Outra é que ele escreveu os cinco livros no final de sua vida. Isto, no entanto, é uma questão de fé.

Apesar da crença, estudiosos apresentam diferentes versões na determinação do quando ocorreu sua escrita. Não há consenso entre eles. A grande maioria concorda que a TORÁ começou a ser escrita a partir de meados do primeiro milênio antes de Cristo. Vale destacar algumas citações dos estudos que foram realizados:
pela análise linguística e textual concluiu-se que a TORÁ foi produzida em meados do Séc. III a.C;
há registros de que o livro DEVARIM (Deuteronômio) teria sido encontrado numa reforma do templo de Salomão feita pelo rei JOSIAS de Judá, em torno de 600 a.C;
alguns críticos acadêmicos afirmam que a TORÁ mostra sinais que sua construção tenha ocorrido após 583 a.C, talvez com material oriundo de tradição oral anterior;
o famoso arqueologista israelense Isral Finkelstein sugere que grande parte da TORÁ seja uma obra do Séc. VII a.C, motivada por ambições do rei JOSIAS de Judá;
uma corrente tradicional de pesquisadores assumem que várias porções da TORÁ tenham sido escritas no Séc. X a.C;
verificou-se que a versão final da TORÁ ocorreu no final do domínio persa em Jerusalém, ou no início do domínio romano (cerca de 350 a.C).
Os livros da TORÁ (PENTATEUCO)
Os livros da TORÁ correspondem aos mesmos cinco primeiros livros do Antigo Testamento da Bíblia Cristã.
Em BERESHIT (GÊNESIS)
É narrada a criação do mundo e do homem. São apresentados os motivos do sofrimento do mundo, a constante corrupção do gênero humano e a aliança que Deus fez com Abraão e seus filhos. É apresentada a genealogia dos povos do Oriente Médio.
Em SHEMOT (ÊXODO)
É narrada a escravidão dos hebreus no Egito. Descreve a manifestação de Deus a Moisés, o utilizando como líder para a libertação dos hebreus. Descreve a fuga dos hebreus para o deserto, recebendo a TORÁ dada por Deus. Mostra as primeiras revoltas do povo hebreu contra a liderança de Moisés e as condições da peregrinação.

Em VAYIKRAH (LEVÍTICO)
São apresentados a) os aspectos básicos do KORBANOT, ou seja, os diversos tipos de sacrifícios e ofertas dentro do judaismo. Existem 5 tipos: Olah (sacrifício onde um animal é queimado); Minchá (oferenda da farinha); Shelamim (oferenda de paz); Chalat (oferenda pelo pecado) e Asham (oferenda pela transgressão); b) as regras de CASHRUT ou as leis dietéticas do judaismo, como o hábito de não comer carne de porco ou frutos do mar, além de não misturar carne e leite; e c) a sistematização do ministério sacerdotal.
Em BAMIDBAR (NÚMEROS)
Descrição dos censos do povo hebreu, a narração da saga no deserto e as revoltas do povo.
Em DEVARIM (DEUTERONÔMIO)
São compilados os últimos discursos de MOISÉS antes de sua morte e da chegada na terra de Israel.
A leitura da TORÁ
Aos textos da TORÁ, é dado um alto grau de valoração. Cada elemento do versículo tratado necessariamente tem que significar alguma coisa. Cada palavra, por ser de origem divina, tem que ter um significado próprio.

Até hoje nas sinagogas, os pergaminhos da TORÁ são guardados dentro de um compartimento especial chamado BAÚ SAGRADO, com sua frente voltada para Jerusalém. Na presença de um rolo da TORÁ, os judeus homens devem estar com a cabeça coberta. A leitura pública da TORÁ segue uma entonação e dicção extremamente complexas e ritualmente prescritas. Normalmente é feita por um cantor profissional ou chazan (cantor litúrgico), embora todos os homens judeus maiores de idade tenham o direito de fazê-la. A leitura semanal é chamada de parsha hashavua (sessão da semana) e cobre todo o conteúdo da TORÁ subdividida em tantas semanas do ano judaico. Todos os judeus estudam o mesmo assunto na mesma semana

O caminho da TORÁ e a formação da BIBLIA HEBRAICA
Ensinamentos judaicos (Tratado de Avót) dizem que MOISÉS recebeu a TORÁ no monte SINAI, entregou-a para JOSUÉ que a transmitiu aos anciãos. Os anciãos a repassaram aos profetas, e os profetas aos homens sábios e escribas que participaram da Grande Assembléia em 444 a.C. Entre eles estavam Ageu, Zacarias, Malaquias, Esdras, Neemias, Daniel, Hananias, Misael, Azarias, Mordechai e Zorobabel. Estes sábios, escribas e profetas, determinaram o conjunto de livros da BÍBLIA HEBRAICA.
A BÍBLIA HEBRAICA é composta de 3 partes A primeira é a TORÁ com os 5 livros sagrados. A segunda é chamada de NEEVIM e contém os livros dos profetas anteriores (históricos) que são JOSUÉ, JUÍZES, (1-2), SAMUEL e (1-2) REIS; e dos profetas posteriores (proféticos) que são ISAÍAS, JEREMIAS, EZEQUIEL, 12 PROFETAS MENORES (OSÉIAS, JOEL, AMÁS, OBADIAS, JONAS, NIQUÉIAS, NAUM, HARACUQUE, SOFONIAS, AGEU, ZACARIAS e MALAQUIAS). A terceira parte é chamada de KETUVIM e relata os frutos da Aliança utilizando poesias e liturgia. Ela contém os Livros da Verdade que são SALMOS, PROVÉRBIOS e JÓ; os 5 MEGUILOTT (rolos) que são CANTIGO DOS CANTIGOS, RUTE, LAMENTAÇÕES, ECLESIASTES e ESTER, e os livros de DANIEL, ESDRAS-NEEMIAS e (1-2) CRÔNICAS.

O processo de definição do conjunto de livros da BÍBLIA HEBRAICA provavelmente se iniciou com ESDRAS em 450 a.C. A primeira parte incluída foi a TORÁ pois já era considerado sagrado desde o Séc. IV a.C. A segunda parte, NEEVIM (livros proféticos), foi incluída no cânome no Séc. II a.C. A definição e inclusão da terceira parte, KETUVIM, somente foi incluída no final do Séc. I d.C pelos TANAÍTAS ou sábios rabínicos sucessores dos membros da Grande Assembléia.
A TORÁ ORAL
A liturgia e as tradições judaicas foram também transmitidas oralmente. Elas foram conhecidas como Lei Oral, e mostraram os costumes e práticas judaicas consagradas. A transmissão oral já existia desde a época de MOISÉS.
Entre o Séc. I a.C e o Séc. II d.C (período dos tanaítas), foi muito significativa uma divisão do povo judeu. Existiam os saduceus e os fariseus. Os saduceus acreditavam que a verdadeira religião se baseava no culto do templo e no rígido cumprimento da TORÁ ESCRITA, a qual era interpretada literalmente. Já os fariseus adotavam a interpretação mais liberal das leis mosaicas e foram os grandes responsáveis pela formação, incrementação e divulgação da TORÁ ORAL. Após 70 d.C quando ocorreu a destruição de Jerusalém e do 2º templo de Salomão pelos romanos, a TORÁ ORAL passou a ter uma importância ainda maior.
Nesta época, os rabinos compilaram as discussões orais que eram feitas surgindo então o livro MISHNÁ, uma obra do judaismo rabínico que descreve a chamada TORÁ ORAL. A MISHNÁ possui 6 grandes temas (Sementes, Festivais, Mulheres, Prejuízos Cíveis, Santidades e Purezas) com 63 tratados.
Dois séculos depois surge o livro GUEMADÁ, organizando, comentando e analisando o MISHNÁ. O MISHNÁ e o GUEMADÁ agrupados, formam o conteúdo do livro TALMUDE, publicação que contém debates entre aproximadamente 1.000 sábios judaicos.
Como a fé é curiosa....
Referências Bibliográficas
Revista Estudos Teológicos, v.33, n.1 (1993) "A Torá e os Judeus. Em busca de um diálogo hermenêutico. Nelson Kilpp acesso via periódicos.est.edu.br
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